Pé na Estrada: Modo de usar

Eve Kieliszek
4 min readApr 23, 2021

O começo dos relatos da experiências de trabalhar e viver onde o coração mandar.

Quando era adolescente e minhas amigas se imaginavam casadas, com filhos, com planos de casa, trabalho em um único lugar, eu ficava apavorada. Eu só conseguia me imaginar nos aeroportos com mochila nas costas.

Afinal, se estamos aqui por alguma razão espiritual ou por um acaso da ciência, em qualquer uma das alternativas, o único tipo de vida que faz sentido para mim é: se estamos voando a 70 mil km por hora nessa rocha linda no universo e um espaço tão curto de tempo, só me resta aproveitar, experimentar e aprender ao máximo. E esse sentimento virou uma angústia por muito tempo e na vida adulta chegou a um ponto muito específico: como trabalhar e ter dinheiro para fazer isso, conciliar essas duas coisas nesse sistema que conhecemos?

Posso contar em outra ocasião como foi esse processo, mas chegando ao fim da história — e o começo de outra que é essa que quero compartilhar aqui a partir de agora — depois de abrir a essencelab em 2019, onde trabalhamos com, veja você, aprendizagem, pensando no futuro do trabalho e em em novas formas de trabalhar e se relacionar, eu tive que ficar em São Paulo, minha cidade natal, afinal, a grande parte das empresas do Brasil estão na terra da garoa e eu precisava ficar acessível para fazer reuniões comerciais e contatos para alavancar a empresa. Mesmo eu e a Karina — minha sócia- achando tudo isso muito chato e careta. Nunca, nem pensamos em ter um escritório físico, por exemplo.

Em 2020 eu aluguei um apartamento de 30m2 no bairro que eu gosto de São Paulo, só para mim, com um espaço para a essencelab. O plano era sair de São Paulo, assim que a essencalab “andasse sozinha”, eu poderia dar voos mais altos além de finais de semana e feriados. Eis que veio a pandemia, todo o trabalho ficou online, enquanto todo mundo estava tentando se adaptar e aprender a navegar nesse mundo, eu e a Ká já estávamos surfando essa onda com tranquilidade. De todo modo, passei o ano trancada no apartamento gerenciando crise de ansiedade por estar trancada, distante de esportes outdoor, da praia, da montanha, de natureza. Tentando buscar alguma conexão nos momentos que o Parque Villa Lobos pode estar aberto. Porque? Para que?

Deu 1 ano do contrato de aluguel, poderia rescindir sem multa, tive uma série de problemas e contratempos com a proprietária do apê: boletos, chateação, cadê o foco no meu trabalho, cadê o contato e a experiência com a vida? E sobretudo, como falar, escrever, pensar e criar sobre aprendizagem sem fazer conexões de tudo que leio e assisto em filmes e séries com o mundo lá fora? O universo conspirou, deixei todas as minhas coisas na casa da minha mãe, arrumei uma mala de roupas — meus anos no montanhismo me ensinaram que não é preciso muito para viver — e minha mochila com computador e outros equipamentos importantes para o meu trabalho. Parti para Jericoacoara.

E fui só passar 15 dias e organizar e refletir a minha vida sobre um novo modelo que venho pesquisando há anos: o nomadismo digital. Cada vez mais comum na Europa, com países e lugares já incentivando a estadia de pessoas que trabalham de forma online ou no home office como a Estônia que oferece um visto específico para essa modo de vida. Estranhamento, medo, questionamento de pessoas e meu mesmo veio muito a tona. Será que eu, aos 41 anos, não tinha que pensar em comprar casa, carro, apartamento?

No final das contas, meus 15 dias em Jeri se estenderam: 2 meses e meio. Fui parar em um lugar que além de ser um paraíso na concepção mais clara da palavra, parece que fui presenteada com um lugar onde a pandemia parece ser algo distante. Existem restrições em lojas e restaurantes, nem passou pela minha cabeça fazer qualquer tipo de aglomeração aos moldes de São Paulo ou que faria em Jeri mesmo sem pandemia, mas aluguei uma prancha e retomei um esporte que sempre amei , pratiquei pouco e tinha deixado há muito tempo. Tenho contato diário com a natureza, consegui fazer conexões com pessoas que me fazia tanta falta trancada no apartamento. Estou podendo experimentar, e aprender. O trabalho continua e muito. Sensação de ser livre, meus amigos. E pela primeira vez, mencionei o termo “paz” na minha psicanálise.

Vou usar esse espaço para compartilhar essas experiências e aprendizados: sejam eles sobre a vida, haja autoconhecimento. Vou compartilhar dicas também, aquelas de ordem prática: sobre trabalho e relacionamento remoto que somos especialistas na essencelab, sobre os lugares, check lists sobre equipamentos, gadgets e outras coisas que são importantes para que a vida digital funcione.

Há muitos jeitos de viver, o meu não é o certo, não tenho expectativa de “vender” esse modelo. Mas quero sim, estimular e provocar novas formas de vida, para que pessoas possam encontrar o seu jeito, diferente do modelo imposto pela sociedade e pela cultura. E aquele sentimento de liberdade tão almejado, talvez passe por se libertar desses modelos. Vamos viajar comigo? :)

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Eve Kieliszek

Facilitadora de experiências de aprendizagem, montanhista. Nômade digital